A antropóloga Laura Carolina Vieira analisa os efeitos dos projetos de carbono em Portel, no arquipélago do Marajó, e alerta para os riscos de uma economia verde que reproduz desigualdades históricas.
Figura 1 – Representação dos quatro projetos REDD dentro do município de Portel conforme coordenadas geográficas obtidas na base VCS/VERRA.Doutora pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Laura compartilhou no episódio 43 do podcast Ecos do Marajó sua experiência ao trabalhar com uma entidade ligada a esse tipo de projeto em Portel. Ela aponta que, apesar do discurso sustentável, o que se observa é o controle territorial das comunidades, a desvalorização de seus saberes e o uso da floresta como ativo econômico para interesses externos.
“O que eles propõem, na verdade, são florestas esvaziadas, florestas que perdem o seu sentido. Elas só existem para produzir crédito de carbono.”
Além de territorializar o lucro, esses projetos tendem a enfraquecer politicamente as comunidades ao interferirem em suas formas tradicionais de organização. Iniciativas como a substituição dos títulos coletivos por cadastros individuais de terra são estratégias que, segundo Laura, criam vulnerabilidades fundiárias e impedem avanços na regularização territorial.
“É uma relação muito desigual. Os ribeirinhos, os indígenas, os quilombolas tentam se proteger, mas os projetos continuam explorando essas comunidades.”
Embora algumas obras, como escolas ou unidades de saúde, sejam apresentadas como contrapartidas, Laura argumenta que são benefícios pontuais e desproporcionais frente aos lucros das empresas envolvidas. Para ela, os projetos de carbono são, em essência, uma falsa solução ambiental.
“Esses benefícios são migalhas. Quando você vai ver de fato quanto é gasto e quanto é ganho, fica a pergunta: onde está o resto do dinheiro?”
A experiência em Portel revela os limites de uma lógica de compensação climática que, no lugar de fortalecer quem cuida da floresta, reafirma o poder de grandes agentes econômicos e mantém a exclusão de comunidades locais.
🎧 Para aprofundar essa discussão e conhecer mais detalhes da pesquisa de Laura Carolina Vieira, assista ao episódio 43 do podcast Ecos do Marajó, disponível no YouTube.

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