Nos dias 26, 27 e 28 de fevereiro de 2025, o palco do Sesc Casa das Artes Cênicas, em Belém, recebeu Travessia, espetáculo criado e interpretado pelo ator marajoara Miller Alcântara. A peça, que já foi apresentada, segue ressoando como uma importante manifestação artística sobre as vivências de quem atravessa diariamente os rios e baías da Amazônia, especialmente no arquipélago do Marajó.
O resgate da memória dessas apresentações é essencial para reforçar a relevância de Travessia, que não apenas emocionou o público, mas trouxe à tona reflexões urgentes sobre a segurança da navegação, a negligência do poder público e as cicatrizes deixadas pelos naufrágios que marcam a história marajoara.
Sinopse
Travessia é um mergulho em histórias reais de pessoas que cruzam as águas todos os dias, sem a certeza de chegar do outro lado. O espetáculo mistura realidade e ficção para celebrar a cultura marajoara, trazendo para o palco relatos que atravessam o tempo, as águas e a memória de um povo.
Entre a arte e a memória coletiva
Durante as apresentações, Miller Alcântara convidou o público a mergulhar nessas histórias de luta e resistência. Mais do que uma encenação sobre tragédias, *Travessia* celebrou a força do povo marajoara e sua relação ancestral com as águas — caminho de trabalho, sustento, encontros e despedidas.
A dramaturgia costurou relatos reais de vítimas e sobreviventes com cenas ficcionais, criando um mosaico poético-documental capaz de sensibilizar e provocar reflexão. Ao recontar essas travessias, o espetáculo reafirmou a potência da arte em preservar memórias e cobrar justiça.
Memória e justiça: o naufrágio da lancha Dona Lourdes 2
Uma das inspirações para *Travessia* foi o trágico naufrágio da lancha Dona Lourdes 2, ocorrido em setembro de 2022. A embarcação, que partiu de Cachoeira do Arari em direção a Belém, naufragou nas proximidades da Ilha de Cotijuba, vitimando dezenas de pessoas. Até hoje, as famílias das vítimas clamam por justiça, enquanto a falta de respostas e de melhorias na segurança da navegação seguem como marca de descaso.
Por que Travessia permanece necessário
Mesmo após o encerramento das apresentações, Travessia continua necessário. Ele é um lembrete potente da fragilidade de quem depende das águas para sobreviver e da negligência histórica que coloca vidas em risco. É também uma celebração da cultura marajoara, uma afirmação de resistência e um chamado à memória e à luta por direitos e segurança.
Sobre o autor
Miller Alcântara é natural de Soure, no Marajó, e conhece na pele a rotina das travessias. Ele mesmo precisou deixar sua terra natal para realizar o sonho de estudar teatro e ingressar em uma universidade. Essa experiência pessoal de deslocamentos e desafios moldou sua trajetória artística e inspira sua criação, transformando vivências em arte e denúncia.
Ficha técnica
- Espetáculo: Travessia
- Criação: Miller Alcântara
- Apresentações: 26, 27 e 28 de fevereiro de 2025
- Local: Sesc Casa das Artes Cênicas - Belém
Ao relembrar Travessia, reforçamos a importância de seguir contando essas histórias — para que a memória não se perca, para que a justiça aconteça e para que nenhuma travessia precise ser a última.
0 Comentários