Passageiros afirmam que não receberam orientação enquanto embarcação corria risco por sobrepeso e omissão
Na noite de quinta-feira, 16 de outubro de 2025, uma travessia aparentemente rotineira pela Baía do Marajó transformou-se em um pesadelo para os passageiros da balsa da empresa Marajó Norte. A embarcação, que partiu de Belém com destino a Oeiras do Pará, com parada em Curralinho, enfrentou uma situação de risco extremo devido a falhas operacionais graves, incluindo excesso de carga, falta de orientação aos passageiros e omissão por parte dos responsáveis pela embarcação.
O incidente teve início por volta das 21h, quando a balsa começou a apresentar sinais de instabilidade. A proa da embarcação afundava progressivamente, enquanto a água invadia o convés, gerando pânico entre os passageiros. Sem qualquer orientação clara da tripulação, os próprios passageiros tomaram a iniciativa de tentar salvar a embarcação. Alguns lançaram parte da carga ao mar, enquanto outros acionaram bombas improvisadas para retirar a água que se acumulava no interior da balsa.
Uma passageira que estava a bordo descreveu o episódio como “horrível” e relatou o trauma causado pela situação. “O trauma vai ficar, mas serve de alerta também para nós, passageiros, sermos fiscais e não confiarmos tanto nos responsáveis pelas embarcações. O problema foi excesso de carga e não de passageiros, tampouco maresia”, afirmou.
Ainda abalada, a mesma passageira contou que não conseguiu dormir desde o incidente. “As imagens das pessoas em desespero não saem da memória, os gritos, os choros e tudo mais”, disse. Segundo ela, os passageiros ficaram desamparados. “Comecei a pedir ajuda antes da situação piorar, avisei meus familiares e amigos, que começaram a compartilhar o que estava acontecendo. Os responsáveis da embarcação não fizeram nada para nos alertar sobre como proceder ou se o socorro já estava a caminho”, completou.
A ausência de comunicação efetiva por parte dos responsáveis agravou ainda mais a situação. Foi necessário que familiares em terra acionassem outras embarcações para prestar socorro, incluindo o navio Bom Jesus, que conseguiu resgatar todos os passageiros da balsa.
Embora não tenha ocorrido uma tragédia, o episódio revela falhas estruturais e operacionais que colocam em risco a segurança dos passageiros nas rotas aquaviárias da Baía do Marajó. O excesso de carga, a falta de fiscalização adequada e a omissão dos responsáveis pela embarcação são fatores que contribuíram diretamente para a situação de risco enfrentada pelos passageiros.
Este incidente não é um caso isolado. Historicamente, a região enfrenta desafios relacionados à segurança no transporte aquaviário, incluindo a falta de infraestrutura adequada, fiscalização ineficiente e negligência por parte das empresas responsáveis. Em setembro de 2022, por exemplo, ocorreu um dos maiores naufrágios dos últimos anos na região: a lancha Expresso Dona Lourdes II naufragou na Baía do Marajó, em frente à Ilha de Cotijuba, após sair do município de Cachoeira do Arari. O acidente resultou em mais de 20 vítimas fatais e teve, novamente, como causas principais a negligência humana e a falta de fiscalização adequada. Na ocasião, o comandante da embarcação chegou a fugir após o naufrágio.
A combinação desses fatores cria um ambiente propenso a acidentes e coloca em risco a vida de milhares de pessoas que dependem dessas rotas para se deslocar.
É importante reforçar mais uma vez, que as autoridades competentes precisam adotar medidas rigorosas para garantir a segurança no transporte fluvial na baía do Marajó. Isso inclui a implementação de fiscalização efetiva, a imposição de limites rigorosos de carga e a exigência de treinamentos adequados para as tripulações. Além disso, as empresas responsáveis pelo transporte devem ser responsabilizadas por qualquer negligência que coloque em risco a vida dos passageiros.
A tragédia evitada na noite de 16 de outubro deve servir como um alerta para a necessidade urgente de mudanças no sistema de transporte fluvial da região. A segurança dos passageiros não pode ser comprometida por falhas operacionais ou omissões por parte dos responsáveis. É fundamental que ações concretas sejam tomadas para evitar que episódios semelhantes se repitam no futuro.
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