E Aí Pescador, Onde Vais? Desafios da Pesca no Alto Anajás

Análise das Dificuldades Enfrentadas pelos Pescadores em Anajás Grande e a Relação com os Fazendeiros

No artigo de hoje, discutimos as dificuldades que os pescadores enfrentam no Alto Anajás, no Marajó, destacando como a tradicional safra do Rio Anajás molda o cotidiano desses trabalhadores. O padre Giovanni Gallo, em um de seus artigos, observa que “nem todo pescador é santo que mereça altar”, e, com base na minha própria experiência pelo ANAJÁS GRANDE, percebo claramente os desafios enfrentados pelos pescadores da região.

Na década de 80, a safra do Rio Anajás exigia que os pescadores Jenipapenses viajassem dias a fio com barcos a vela e, posteriormente, puxassem os cascos na "espia" até a comunidade Lavrado, onde o Rio Anajás começa. No entanto, hoje, os pescadores da região Anajás Grande continuam lidando com uma série de dificuldades diárias que afetam suas vidas e suas práticas de pesca.

Desafios e Dificuldades

  1. Mudança de Estação: O ciclo anual de duas estações no Marajó apresenta desafios significativos. O inverno, conhecido como "DITADURA da água" pelo Pe. Gallo, impõe dificuldades com a cheia dos rios, enquanto o verão traz as suas próprias "dores", como a necessidade de puxar canoas nas secas do rio e a dificuldade de alcançar áreas onde o peixe é mais abundante.

  2. Preço do Peixe: O preço pago pelos compradores, conhecidos como "Geleiros", é frequentemente muito baixo, variando em torno de R$ 3 ou menos por kg de peixe. Isso força os pescadores a redobrar o trabalho e os torna reféns dos compradores, já que não há associações ou cooperativas que permitam aos pescadores especular o preço de seu próprio produto.

  3. Condicões de Trabalho: Muitos pescadores passam noites e dias em "Tapiri", pequenos abrigos improvisados à beira do rio, para se proteger da chuva e de animais selvagens. A rotina pesada do trabalho não é novidade, mas a condição de vida e o esforço contínuo são evidentes.

  4. Relação com Fazendeiros: A relação histórica entre pescadores e fazendeiros continua se conflituando, com fazendeiros cercando suas terras e impondo restrições à pesca. Enquanto os fazendeiros alegam que a pesca pode comprometer o pasto e a fauna local, os pescadores veem isso como uma limitação de seu modo de vida e incentiva a pesca ilegal forçada. 

A falta de políticas públicas adequadas ao longo de mais de meio século desde as primeiras denúncias de Pe. Gallo continua a ser um problema, refletindo a ausência de mudanças significativas na região.

Deixe sua opinião a respeito deste cenário e como você acha que o futuro desses trabalhadores pode ser moldado, seja pelo destino ou pelo esforço contínuo deles mesmos.

GLOSSÁRIO

  • Alto Anajás: Parte do Rio Anajás localizada acima da cidade de Anajás.
  • Casco: Canoa feita a partir do tronco de uma árvore.
  • Espia: Ato de puxar a canoa durante a seca com cordas.
  • Geleiro: Comprador que conserva o peixe no gelo.
  • Jenipapense: Morador da vila de Jenipapo, no município de Santa Cruz do Arari.
  • Rego das Canoas: Pequeno igarapé que conecta a comunidade do Lavrado ao Rio Arari.
  • Reses: Unidades de gado (bois e búfalos).
  • Tapagem: Represa de terra e estacas construída manualmente durante a estiagem.
  • Tapirí: Abrigo improvisado à beira do rio usado pelos pescadores para proteção.

Compartilhe suas ideias e comentários!


Postar um comentário

0 Comentários