Casa da Memória de Ponta de Pedras: Quando o passado encontra quem não esquece

 Edinelson de Castro e a reconstrução da memória coletiva após a perda de um acervo histórico no município marajoara de Ponta de Pedras

Em setembro de 1999, um incêndio consumiu o prédio da prefeitura de Ponta de Pedras, no Marajó. Não foi apenas uma estrutura física que se perdeu. Junto com as chamas, desapareceram também os arquivos históricos do município, documentos, registros, papéis públicos que contavam parte da história local. Para muitos, foi apenas uma tragédia administrativa. Para Edinelson de Castro, foi o início de um compromisso.

"Ver tudo aquilo sendo destruído me trouxe uma tristeza muito grande. Era como se um pedaço da nossa história tivesse sido apagado ali, na minha frente", relembra Edinelson, que é memorialista e fundador da Casa da Memória do município.

A partir dos anos 2000, ele começou a reunir fotografias antigas, buscar informações com moradores, pedir doações de objetos do cotidiano marajoara e catalogar peças que tinham valor histórico ou simbólico. Com apoio da comunidade, promoveu uma exposição fotográfica e, anos depois, organizou um acervo informal. A ideia da Casa da Memória, no entanto, levou tempo para se consolidar juridicamente.

Somente em 30 de abril de 2021, a Casa da Memória foi oficialmente fundada como espaço público, com sede física e diretoria formalizada. Desde então, ela vem recebendo visitas de estudantes, pesquisadores e pessoas interessadas em conhecer os vestígios do passado de Ponta de Pedras, desde utensílios antigos a documentos restaurados.

"É um trabalho feito com muito esforço. A gente não tem tudo que precisa, mas tem o que é mais importante: a vontade de manter viva essa história que é de todos nós", diz Ednelson.

Apesar das dificuldades, falta de recursos, necessidade de restauração das peças, e melhorias na estrutura do espaço, o trabalho segue ativo. A Casa da Memória hoje funciona como um ponto de apoio para quem pesquisa, um lugar de encontro para escolas e também como um lembrete constante de que aquilo que foi destruído pode ser reconstruído com esforço coletivo.

Mais do que um arquivo de objetos antigos, o que está ali é o esforço diário de alguém que compreende o valor da memória como ferramenta de pertencimento. Ednelson de Castro mostra que preservar não é olhar para trás, é construir, no presente, um ponto de continuidade para o futuro.

Acompanhe o episódio do Podcast Ecos do Marajó em que Edinelson de Castro conversa no programa contado um pouco mais de sua trajetória e sua iniciativa.