Lise Tupiassu participou do painel "Desafios e oportunidades na geração de energia na e para
a Amazônia brasileira"
Publicado originalmente em O Liberal em 04.12.23 17h48
Representantes de organizações da Amazônia e de pesquisas da área ambiental do Brasil
participaram nesta segunda-feira (4) do painel "Desafios e oportunidades na geração de
energia na e para a Amazônia brasileira", promovido pela organização não-governamental
Uma Gota no Oceano, durante a 28ª Conferência das Partes (COP 28) da Convenção-Quadro
das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC), em Dubai. Na ocasião,
a professora de Direito e diretora da Clínica de Direito dos Direitos Humanos da Amazônia
na Universidade Federal do Pará (UFPA), Lise Tupiassu, criticou a alta tarifa de energia
elétrica do Pará.
O canal também Marajoando Cultural repercutiu aparticipação de Lise na
COP através ddo Youtube confira:
Lise Tupiassu (Divulgação / Pepyaka Krikati)
"A região amazônica é onde se paga a energia mais cara do País. Enquanto no Pará é
cobrado cerca de 88 centavos o quilowatt, e em São Paulo se paga 66 centavos. Porém,
é no Pará onde estão localizadas as maiores usinas hidrelétricas do Brasil. Nós exportamos
energia, mas ficamos com os impactos sociais e ambientais que a produção hidrelétrica
provoca", disse Tupiassu.
Atualmente, na Amazônia, 400 mil famílias não estão integradas ao Sistema Interligado
Nacional (SIN), totalizando mais de três milhões de pessoas em situação de pobreza
energética e não atendidas pelas fontes convencionais. Esse panorama foi
apresentado pela pesquisadora, que ressaltou a importância do fomento ao protagonismo
dos amazônidas.
“Quando a gente pensa na geração de energia e transição energética, é muito importante
que a gente pense na pobreza energética que se vive na região amazônica. A gente fala
em transição energética, mas para muitos a energia nunca chegou. A gente tem muitas
populações vivendo no escuro. Cerca de três milhões de pessoas que ainda vivem com
precariedade energética", provocou Lise.
A paraense Auricélia Arapiun, liderança indígena do Baixo-Tapajós, que também participou
da mesa com palestrante, deu exemplos de como a região é rica e pobre ao mesmo tempo,
se tratando de energia.
Auricélia Arapiun (Divulgação / Pepyaka Krikati)
“A prova disso é que o governo construiu a Usina Hidrelétrica de Belo Monte no Pará com
a promessa de que iria trazer desenvolvimento para a região. Porém, temos dezenas de
comunidades no Tapajós e de outras regiões do estado que nem têm acesso à energia
elétrica. Então, esse desenvolvimento nunca foi para nós e nunca será”, considerou Arapiun.
Estresse hídrico
As críticas às hidrelétricas foram corroboradas pelos dados do MapBiomas.
De acordo com Tasso Azevedo, em 1985, havia 773 milhões de hectares de vegetação nativa.
Já em 2021, esse número caiu para 689 milhões de hectares. Ele ainda revelou que,
nos últimos 35 anos, todas as regiões da Amazônia sofreram com a queda de 9% de
superfície de água ocasionadas pelo modelo energético atual e sua consequente alteração
na dinâmica dos rios. O que representa um risco de falta de água para todos, não
apenas para as comunidades locais.
Tasso Azevedo (Divulgação / Pepyaka Krikati)
“As hidrelétricas estão mudando a dinâmica dos rios e mudando a disponibilidade de água
na Amazônia. E embora as populações da Amazônia e os povos da floresta tenham quase
ou nenhuma responsabilidade sobre o desmatamento que diminui a evapotranspiração e os
rios voadores e sobre o desmatamento que gera emissões junto com o petróleo que estão
mudando o clima e provocando essa perda de superfície de água, os impactos que estamos
tendo sobre esse recurso estão afetando todas as populações da floresta. Nos momentos de
seca, como os que tivemos agora, são justamente essas populações que são as mais
impactadas”, argumentou Azevedo.
Composição da mesa
A mesa foi composta por: Toya Manchineri, coordenador da Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (COIAB); Kátia Penha, coordenadora nacional da Coordenação
Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ);
Eliane Xunakalo, presidenta da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de
Mato Grosso (FEPOIMT); Auricélia Arapiun, do Conselho Indígena Tapajós (CITA);
Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas; e Lise Tupiassu, pesquisadora da Universidade
Federal do Pará (UFPA). Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e
Meio Ambiente (IEMA), foi o mediador da conversa.
Assista ao evento completo neste link.
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